Quem olha de fora imagina que o complexo penitenciário Dr. Francisco de Oliveira Conde e o presídio Estadual de Segurança Máxima Antônio Amaro Alves, em Rio Branco no Acre, parecem apenas o lugar para onde os presos condenados pela justiça acreana são mandados para cumprir as suas sentenças.
Do lado de dentro, histórias que revelam medo, dor, insegurança, impunidade, tráfico de drogas, estupros, prostituição e acima de tudo, muita coragem e submissão na luta para se manter vivo.
Com exclusividade, eu conversei com o ex-detento, que por medida de segurança e para preservar a sua integridade física, vamos chamá-lo de
Marcos.
Mesmo após ter sido posto em liberdade, depois de cumprir oito anos de pena condenado por tráfico de drogas, Marcos teme ser assassinado caso comente fora do presídio, como é o funcionamento dentro do sistema carcerário imposto por grupos rivais de presos, o que ele mesmo denomina de “inferno”.
Trafico de drogas
Segundo Marcos, não há como impedir a entrada de drogas dentro da penal. "De um jeito ou de outro, as mulheres dos presos, os parentes trazem a droga e na maioria
contam com a colaboração dos agentes penitenciários para isso. Até os filhos menores são transformados em mulas trazendo a droga. O pagamento é caro”, revela.
Ele conta que o comércio da droga é feito livremente nas celas e pelos pavilhões. A moeda de troca, é na maioria das vezes, favores sexuais entre eles e até com as esposas dos outros detentos nos dias de visitas íntimas.”Tudo é bem acertado. No dia da visita, no lugar de ir o marido ou namorado para o pavilhão íntimo, vai o dono da droga e essa forma de pagamento é uma das mais caras e preferidas. Cada visita da esposa varia de 5 a 8 papelotes de cocaína ou 20 pedrinhas de craque”, afirma.
Gangues no complexo
Para se manter vivo, Marcos conta que é preciso ser bem relacionado e fazer tudo que os “cabeças” mandam e ainda conseguir dinheiro com os parentes e amigos do lado de
fora do complexo, para fortalecer as quadrilhas dentro do presídio.
Ele diz ainda, que “você tem de fazer parte desses grupos. Ou você está dentro ou pode amanhecer com a “boca cheia de formiga”. Há grupos rivais e se você não tiver
alguma proteção, já era.Você morre mesmo. Muita gente que pensa que os agentes penitenciários fazem alguma segurança dos presos lá dentro está muito enganado. Lá é
cada um por sí e Deus por todos. É a lei do mais forte e do mais esperto. Para o estado nós somos apenas a escória da sociedade. Carne humana pronta para o abate”, desabafa.
O inferno é lá
Marcos revelou que durante o dia, a aparente tranqüilidade e o relacionamento entre os detentos, é tudo normal. Sem querer citar nomes, ele afirma que é a noite, além dos presos molestarem, principalmente os presos recém chegados, até mesmo agentes penitenciários participam das orgias sexuais. “Eles (agentes) não chegam a praticar sexo, mas deixam tudo bem a vontade e vez ou outra eles introduzem seus cassetetes no ânus dos presos que chegam e humilham também. Os mais preferidos (presos) são os
condenados por estupro ou violência doméstica contra a mulher. Aquilo ali á noite se transforma num verdadeiro inferno”, denuncia.
Sindicato diz que categoria repudia tortura e maus tratos
O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do estado, Adriano Marques,
repudiou as denúncias de maus tratos e abusos sexuais, e disse que “antes de qualquer comentário, no que tange a investigação das acusações contra integrantes da carreira de agentes penitenciários, necessário se faz tornar público e notório que repudiamos a tortura, os maus tratos e o abuso de autoridade” disse.
O Sindicalista pontuou também que, passados mais de dois anos de efetivo serviço, nenhum integrante da categoria foi condenado por pratica de maus tratos e tortura ou abuso de autoridade. “Temos como norte de que não haverá penas cruéis e que o preso permanece com todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade.”, enfatizou.
Em relação a segurança dos presos sob a custódia do estado, Adriano afirmou que, “sempre com o objetivo maior de prestar um serviço de excelência e qualidade para resgatar a identidade funcional e organizacional do agente penitenciário, junto aos vários segmentos da sociedade implicando no aumento de nível de confiabilidade. Somos o elo fundamental entre a sociedade e o preso!” afirma.
Defendendo ainda a categoria, Adriano disse que um caso que foi bastante discutido na mídia e pela sociedade em geral, foi a morte do presidiário Magaiver, torturado e assassinado no início do ano passado. Para ele, “foi comprovado pela justiça que nenhum agente teve participação naquela ação”, afirma.
Ao telefone, por não poder receber pessoalmente a nossa equipe, alegando compromissos da pasta, o secretário de Direitos Humanos e coordenador do Instituto de Administração Penitenciária - Iapen, Henrique Corinto, afirmou que muito dessas denúncias já são de conhecimento do órgão e que investigações nesse sentido já estão sendo apuradas dentro dos complexos prisionais no estado.
Corinto disse também, que “é preciso fazer uma avaliação muito minuciosa de todas as denúncias feitas pelo ex presidiário (Marcos) e com base no que já temos, tomar as providencias necessárias" disse pedindo desculpa e que iria entrar numa reunião. Corinto garantiu nos receber, na próxima quinta-feira (20).
Salomão Matos